Fora de mim.

Seria um tanto estranho de minha parte dizer que eu não me conhecia, afinal, se eu não sabia quem eu era, quem mais saberia? Eu me ofendia tanto quando me julgavam como "sem personalidade" ou "Maria vai com as outras", mesmo sendo criança e mal sabendo o significado de ambas as frases. Eu me sentia ofendida. E o que diabos - perdoe-me pela expressão -, seria um ser humano sem personalidade?

Então eu passei por uma crise durante um ano. Um ano em que eu não sabia quem eu realmente era, não sabia do que gostava, do que odiava, não sentia prazer... Eu era uma pessoa vazia. Eu pensei que ler livros, assistir filmes, andar sozinha, conversar com paredes e até pedir ajuda de diversas formas, para diversas coisas que hoje em dia eu nem sei se realmente existem - sem julgamentos às crenças -, fossem resolver qualquer um dos meus problemas de falta de conhecimento interno. Foi quando descobri que não era preciso nada disso para saber quem eu sou. Eu soube que eu era uma das diversas pessoas que vivem dentro de mim. Aquela era uma das mais frustradas e cheias de questões duvidosas sobre o mundo e, mesmo eu sabendo que eu poderia ter outras diversas opiniões sobre diversos assuntos, eu vi que eu era cheia de personalidades - o quão hipócrita isso soa? -, pois vamos e venhamos, caro leitor, não sou a mesma pessoa que te escreve esse texto.
Parte de mim é dramática enquanto outra parte não suporta isso, sou formada por diversas teorias e outras milhares de confusões que nem eu sei resolver. Sou alguém que pede perdão à Deus por cometer algum pecado mas que não se arrepende de te-lo feito. Isto é, se eu realmente acreditar. Mas então me pergunto, quem sou eu para questionar algo tão grandioso e adorado por todos aqueles que conheço - e desconheço?
Eu não precisava começar a tomar café e assistir a novela para conhecer mais o mundo do que os outros. Nem precisava saber de todas as leis para saber que era errado assassinar alguém ou roubar um pirulito de uma criança. Modéstia a parte, eu sabia da vida do que muitas das pessoas que eu conheço, pois sei que a vida é muito mais do que todos imaginam!
Então, em um dia nublado, assistindo um filme de romance adolescente, eu percebi que aquelas múltiplas personalidades e aqueles milhares de pensamentos indecisos e confusos, eram uma pequena parte de mim. E se você me parar para me perguntar quem eu realmente sou ou o que eu estou fazendo da minha vida, meu caro, eu não faço a mínima ideia.